quarta-feira, 26 de março de 2014 /
o caminho e o labirinto /
Ainda ando tocada pela literatura de Gonçalo M. Tavares, releio um trecho de seu livro episódico "Matteo perdeu o emprego". Devorei o livro em um dia. Sua estrutura narrativa aponta para a forma de listagem, catálogo, que passamos a saber nas últimas páginas que se trata de uma organização de fatos pautada pela lógica alfabética, interrompida no N, de Nedermeyer, o homem que vê o acidente do primeiro capítulo e vende fotografias antigas da família. Um mapa relacional sofisticadíssimo é traçado entre as personagens - muy cinematográfico - e, no posfácio, personagens retornam sob efeito comentário, livres e libertos da estrutura. O eu lírico do autor torna-se auto-reflexivo, um pouco mais leve e poético, uma vez que explica suas escolhas e hipóteses. Durante toda a narrativa, a atmosfera é ácida ai como adoro. O trecho que eu vou colocar aí embaixo me fez relacionar LABIRINTO com INFÂNCIA com MINIATURA. "..., o labirinto é sempre um castigo que tem a ver com a dimensão: em qualquer labirinto temos a impressão finalmente que somos anões e não seres normais. O labirinto, é pois, uma máquina de fazer miniaturas. Não vemos por cima, não somos suficientemente altos: estamos então perdidos. No fundo, somos crianças - não sabemos por onde sair daquele emaranhado de traços verticais".
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