el loco, le mat, the fool

de noites de insônia nascem dias precipitados. começam em dívida, e toda dívida traz um peso terrível que rapidamente precisa ser superado. a manhã então engata no impulso e traz a urgência necessária para que se escreva alguma coisa, já que essa é hoje a minha forma de se fazer alguma coisa. talvez esteja sendo impulsiva. não sei para onde estou indo. assim como os cachorros que passeiam para fazer xixi. assim como os vendedores quando dão o troco e veem o cliente partir. a existência segue sua marcha emigrante. um homem pequeno carrega um spitz alemão no colo, repara na dupla de greyhounds que estão comigo e se apaixona. cachorros conseguem fragilizar qualquer masculinidade, penso. durante a conversa, o homem franzino aproveita para disseminar um boato sobre o comportamento de um ator famoso, que diferente do que noticiam, é um grande filho da puta. o mundo anda mal, penso, enquanto olho para o spitz alemão no colo do homem agora ranzinza. para que esse comentário? nós não nos conhecemos, não havia sequer contexto de fazer existir ali qualquer tipo de vínculo. uma amizade não começa a partir de uma mentira. a pós-modernidade empacou em um buraco, inverteu a direção e começou a andar para trás. de seu interior agora nascem apenas pedaços de verdade, nacos inférteis que funcionam como agrotóxicos e criam abismos que bifurcam folhas, cidades e famílias. não há faísca, fogo fátuo ou delírio que resista. como um monza ano 96 que te deixa na mão, ou aquele namoro que nunca fica ardente, nem mesmo depois de inúmeras taças de vinho. um mundo no qual uma história distópica dos anos 80 vira ícone do entretenimento entre jovens nem tão jovens assim. um mundo de Meu Deus, e de marthas e da márcia, grande márcia, sempre disponível mas só para quem é crente. um mundo fla flu sem fim de partida. onde emails não são respondidos, crianças não vão para a escola e bolsas não são renovadas. de pós-pessoas e do pós-trabalho. a crise é geral, global, seminal. a american chemistry society da américa descobriu recentemente que da merda de vacas e elefantes pode-se fabricar um tipo de papel mais ecológico e econômico que o das árvores. entretanto, a royal society of chemistry do reino unido está mais interessada em pesquisar os efeitos dos esteróides anabolizantes na merda dos humanos, e não legitima o que julga ser apenas um insight leviano de um pesquisador de férias em uma pequena aldeia austríaca, penso. a esperança agora é apenas uma palavra engraçada na qual ninguém mais confia.

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