A Raiva







Raiva.

Muita raiva.
Meu corpo e meu pensamento e meus olhos e minhas mãos estão tomados pela acidez do rabdovírus.
A raiva de ser feita de idiota, da insônia do café-com-leite, da perda do romântico, do golpe ao honesto.
A raiva me faz gritar rouco, me faz chorar com dentes trancafiados, me fecha as mãos e me abre a boca para dar vida a uma nova conjunção de palavrões.
Bato na primeira superfície inanimada que avisto; no caso, a porta velha da cozinha.
A raiva machuca.
Não é possível parar de chorar, nem quando se pára de lacrimejar.
A raiva é um choro contínuo.
Penso em como usá-la para fins construtivos.
Repito pra mim:
Escolho a construção à destruição.
Escolho a raiva à morte.
O que se ganha sendo obediente?
A morte da raiva.
A raiva vem e me dobra
Meu ventre comprime minha coluna lombar
e me torno um quadrúpede.
Sinto dor, e a dor me faz sentir ainda mais raiva.
Não é possível sentir raiva e ser obediente ao mesmo tempo.
Eu não quero ser obediente.
Eu quero ter raiva.





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